quarta-feira, 11 de abril de 2012

Inclusão: um processo ainda em discussão!

Desde o dia em que recebi o exemplar da Revista Nova Escola, em pleno domingo de manhã, estou sentindo "aquela dor doída" de que fala Rubem Alves quando quer se referir ao ato criativo de escrever.
Uma semana se passou e as inquietações só aumentaram. E, enfim, "para me livrar da dor" estou aqui, escrevendo esta postagem.
Após folhar rapidamente a revista logo cheguei na página 28: "Nova escola Discute" : contempla uma reportagem escrita por Beatriz Santomauro sobre INCLUSÃO.
O título "Ameaça de retrocesso paralisa a Inclusão" considera que "novas políticas podem minar avanços obtidos nas últimas décadas no atendimento de alunos com necessidades educacionais especiais".  Essa temática é desenvolvida por meio da crítica ao Decreto nº7611/2011 promulgado pela Presidente Dilma Roussef em novembro do ano passado que estabelece regras bastante questionáveis em sua Política Nacional de Educação Especial. Embora o MEC tenha lançado uma Nota Técnica nº62 orientando os Sistemas de Ensino, muitas dúvidas ainda são lançadas em discussão. 
Mas não meu objetivo, nesse momento, não é discutir a viabilidade desse decreto, e sim fazer uma espécie de "análise do discurso" para refletir sobre o quanto nosso pensamento excludente pode estar presente mesmo em nossas falas inclusivas.
Ao relatar algumas orientações dadas no decreto 7611/11 o texto diz:
  • "As mudanças são sutis, mas permitem, por exemplo, que o estudante com NEE volte ocupar o ambiente segregado e que não favorece o seu aprendizado e sua participação efetiva na sociedade".
Eu sinceramente não acredito no que acabei de digitar!
Embora as escolas especiais não tenham feito parte do sistema de ensino comum, por longos anos, este fato não lhes remete caráter segregatório! 
Não! Isso só para quem desconhece o trabalho desenvolvido por Instituições organizadas em todo nosso país pela sociedade para dar conta do atendimento às pessoas com deficiência segregadas sim, pelo Estado, que ignorou por muito tempo, suas especificidades e seus direitos mais elementares. 
E se, ao longo de todos esse tempo, não tivessem existido?
As escolas especiais cumprem com excelência seu papel de "promover e articular ações de defesa dos direitos das pessoas com deficiência [...] numa perspectiva de inclusão social de seus usuários". Ampliam, cada vez mais,  sua estrutura pedagógica e técnica multidisciplinar promovendo o desenvolvimento e  preparação de seus educandos para a vida em sociedade. Sua forma suplementar e complementar traz contribuições para o processo de inclusão social.
  • "Via de regra, no entanto, elas (as escolas especiais) não possuem estrutura adequada para ensinar os conteúdos curriculares"
Não possuem e jamais deverão preocupar-se com isso!
Educação não significa acúmulo de conhecimentos e, conhecendo muitas pessoas com deficiência, desde a sua infância (ao longo dos meus 15 anos de trabalho na educação especial) até a sua vida adulta, posso considerar que o que elas menos necessitaram em toda a sua vida foi de conteúdos curriculares! Educação é um processo bio-psico-social.
Compreende, dentre vários aspectos, a conquista da autonomia, do desenvolvimento integral e o respeito aos direitos essenciais para uma vida de qualidade, incluindo, é claro, conhecimentos e saberes.
  • Seguindo em frente: "O esforço, agora, continua nas mãos dos pais e responsáveis, que decidem onde matricular esses alunos. Cabe à eles batalhar para que o caminho trilhado nos últimos anos siga vencendo a exclusão. E assim, o acesso à Educação será garantido e todos terão mais chances de ter suas individualidades respeitadas". 
As famílias tem se esforçado, responsavelmente, para cumprir com as determinações legais, para enfrentar os preconceitos sofridos por seus filhos, para vencer batalhas diárias nesse processo de inclusão que se pretende consolidar. Lutam por seus filhos. Acreditam neles! Cumprem com o seu papel de ensinar o valor da vida e acompanhá-los nela.
E o Estado? Institui políticas públicas que fortaleçam os ideais de uma educação que se proponha inclusiva e garanta a construção do conhecimento de forma significativa e colaborativa? Preocupa-se com a acessibilidade, como atendimento da saúde e da assistência social?
E os sistemas de ensino? Estão melhorando suas estruturas e propostas pedagógicas para garantir a aprendizagem destas crianças? 
E as escolas? Estão dispostas a abandonar metodologias tradicionais e o ensino fragmentado, além da avaliação classificatória? Deseja ser uma "escola para todos"?
E os professores? estão em formação permanente? São mediadores na aprendizagem ou meros transmissores de conteúdos? 
E a sociedade? Promove a inclusão ou perpetua valores que discriminam as pessoas?

Há muito que se fazer, não é mesmo?
Enquanto educadora defendo a inclusão de fato.
Como principio e prática emancipatória.
A educação inclusiva é meu objeto de estudo e
norteia a minha profissão.
A inclusão escolar, avançou muito em nosso país, já subiu o primeiro degrau: permitiu o acesso das crianças com deficiência às escolas regulares. Isso, já há bastante tempo.
Mas e agora?

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